Entretempos, 2013
Em Entretempos apresento trabalhos realizados em períodos de produção diários e sequenciais, desenvolvidos entre 2009 e 2013. Vêm da inquietação com convenções, do desejo de rearranjar o que está ao redor, e transforma-se em energia para pensar em novas possibilidades.
Através de sistemas, determino processos e ações que se repetem no dia a dia, estabeleço um ritmo de trabalho com o que se encontra próximo. São fotografias, desenhos, pinturas e coleta de frases, de forma que sua prática se insira no cotidiano. São obras que acabam se prolongando no tempo.
Seguindo o caminho das estruturas repetitivas, iniciei um percurso de investigação sobre a grade no campo da arte. Desde então, tem funcionado como imã à produção, trazendo um lado lógico de linguagem e fazendo um elo de ligação entre geometria e abstração. Conceitualmente a grade é um elemento sem bordas, que pode se repetir infinitamente para qualquer um de seus lados. Deparo-me com uma duplicidade de significados. A primeira visão reside na síntese do elemento matemático, geometrizado, e a segunda, nos aspectos filosóficos e conceituais. Pode ser vista como um meio regulador e modelador, mas pode gerar outros níveis de interpretação, não somente ordem e elementos formais. Há também uma dimensão sensível, partindo de sua experimentação e percepção. Incorporo as duas situações, como polos, sem fazer uma opção. Utilizo a grade como meio de representação, como elemento estruturador nos trabalhos, e na forma de repetição de cada gesto a prosseguir. Contudo, mesmo propondo sistemas repetitivos, me defronto com diferenças. Escolho os sistemas, sigo as proposições. Ao final, as regras se dissolvem, e levam a descobrir outros caminhos de investigação.
As obras estão conectadas pela utilização da geometria, que convive entre questões poéticas como o infinito, a repetição com diferença e os registros do tempo. Interessam as possibilidades de combinações, o movimento das imagens, a variação das cores do céu, as diferentes percepções sobre os dias, as horas, o tempo passando. Experimentos que levo para a pintura, feitas para um período mais duradouro, sem pressa no fazer e no observar.
As grades em seu desdobramento não seguem uma regra definida. Demandam um certo tempo para olhar, não são imediatas, não são rápidas de desvendar, já não têm uma resposta a uma proposição.
Karen Axelrud, 2013